Brasil: independência e carnaval

Por Felipe Ferreira *
(Rio de Janeiro, Brasil)

Carnaval en Rio de Janeiro

Com a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, em 1808, a capital do Império Ultramarino Português é transferida para cidade do Rio de Janeiro que assume, de forma categórica, os costumes portugueses e passa a ser palco das grandes festas e comemorações reais além das manifestações populares, como as touradas, as festas negras e o entrudo, durante os dias de carnaval.
Após a independência do país, em 1822, a burguesia brasileira busca se afastar do passado português ampliando seu interesse pela cultura francesa. Costumes parisienses passam a influenciar a vida na capital do Brasil que vê sua principal artéria, a rua do Ouvidor, transformar-se numa espécie de rue Vivienne, repleta de lojas de moda, livrarias e cafés onde a língua francesa era corriqueira. Uma das principais características dessa nova burguesia capitalista internacional era seu ímpeto de ocupar as ruas que se transformavam para abrigar seus passeios de carruagem ou suas caminhadas a pé. Surgem os grandes boulevards, as novas praças, as largas avenidas e as espaçosas calçadas, construídas para abrigar o laser da nova classe dominante.
No Rio de Janeiro essa necessidade de ocupação dos espaços públicos se traduziu também na tensão entre o antigo carnaval ao estilo português e a nova folia à francesa. O primeiro, chamado de entrudo, era criticado por sua brutalidade e grosseria, o segundo louvado pela civilidade e elegância de suas brincadeiras. Enquanto o entrudo se caracterizava pela verdadeira guerra de limões de cheiro e de baldes de água travada entre a população da cidade, o novo carnaval afrancesado era marcado pelos sofisticados bals masqués, com suas fantasias e mascarada, e pelas sociedades carnavalescas, grupos de foliões que desfilavam pelas ruas.
Entretanto, ao contrário do que previa o projeto da burguesia, o novo carnaval não substituiu o antigo entrudo. As ruas do Rio de Janeiro, ocupadas pela festa popular e pelas brincadeiras da elite acabaram forçando o diálogo entre estes dois "carnavais", propiciando o surgimento de uma nova folia unindo a alegria e espontaneidade das brincadeiras populares à sofisticação e imponência do carnaval importado da Europa. É essa mistura que acabará por dar identidade ao carnaval brasileiro e impulsionar a idéia de um país mestiço, caracterizado pela "mulata" e pelo samba.


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* Felipe Ferreira. Doutor em Geografia Cultural (Universidade Federal do Rio de Janeiro); Mestre em Antropologia da Arte (UFRJ) e bacharel em Artes Cênicas (UFRJ). Profesor Universidade do Estado do Rio de Janeiro



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20 de junio de 2008

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